A LENDA
Quando morre um idoso, uma biblioteca se incendeia.
Não se sabe ao certo a origem do provérbio. Uns dizem que é
chinês, outros hindu.
A verdade é que a sabedoria oriunda do conhecimento somada
ao experimento de uma vida longa deveria poder ficar registrada detalhadamente para a
posteridade.
Infelizmente, com a morte dos idosos, perde-se a
oportunidade de um aprendizado único. Com a COVID muitas são as famílias que viram suas
bibliotecas incendiadas.
E existem cidades que viram sua biblioteca incendiada.
Morretes, perdeu esta semana o Dr José May. Ninguém pode
dizer-se morretense sem ter passado por ao menos uma consulta com ele.
Cirurgião, clínico geral, pediatra, dizem que metade da
cidade nasceu por suas mãos, em seus quase 90 anos de vida. Acredito.
Figura carismática, bondosa e simples, mostrava um rosto
sisudo no início para logo na
primeira frase tornar-se uma simpatia de pessoa.
Mais que médico de seus pacientes, tornava-se um verdadeiro
e presente amigo.
Nunca quis deixar sua bucólica Morretes. Nenhuma proposta o
seduzia. Nem dinheiro. Nem fama.
O respeito que inspirava no mais humilde até no mais
privilegiado morador era admirável.
Poucos seres humanos podem se dar ao luxo de continuarem
vivos depois da morte.
Pois o Dr. José estará sempre vivo na mente e no coracão
daqueles que com ele conviveram.
Sua história não acabou, pois, com certeza, seu exemplo
inspirou outros que continuarão seu
trabalho. Mas ele foi único! Ah, e coxa-branca fanático como
eu.
Renato Follador
De fato fica uma lacuna. Há uma sensação de perda no ar da bucólica Morretes.
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